Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2006

Votos de descontentamento

Chegou ao fim mais um acto eleitoral, provavelmente aquele cujo resultado eleitoral era o mais previsível. Há muitos meses que todos sabiam quem ia ser o vencedor, só não se sabendo o tamanho da vitória. Apesar de há vários anos anunciar-se e a promover-se a vitória de Cavaco Silva, julgo que se a campanha demorasse mais duas semanas, estava garantida uma segunda volta. Pessoalmente achava positivo, porque seria uma escolha mais esclarecida. O cargo em disputa justificava uma escolha mais elucidativa, pela positiva e não pelos votos de descontentamento.

No fim da campanha, foram muito poucas as ideias que ficaram na mente das pessoas, como as grandes propostas dos vários candidatos. Houve algumas excepções, mas por isso mesmo não passaram de autênticas raridades.

É verdade que matematicamente e oficialmente Cavaco Silva ganhou as eleições. Politicamente, acho mais que foi José Sócrates a perder em toda a linha. Já tinha perdido as autárquicas e agora perde as presidenciais. Se pensarmos que ganhou as legislativas mais pelo demérito de Santana Lopes do que pelas suas próprias qualidades, e também pelo insólito afastamento de Ferro Rodrigues, depreende-se que não tem sido um bom Secretário-geral para o Partido Socialista (PS). Longe disso. Embora haja quem diga que está a ser um bom Primeiro-Ministro (PM), pessoalmente tenho muitas dúvidas.

Uma análise mais fria ao comportamento do PM, poderá levar-nos a pensar que José Sócrates até desejava o resultado que se veio a verificar. A vitória de Cavaco Silva pode não ter sido boa para o Secretário-geral do PS, mas parece não ter sido uma má notícia para o Primeiro-Ministro.

Um dos problemas de José Sócrates, é não conseguir explicar as medidas que toma. Algumas delas, mais parecem ser tomadas para mostrar quem manda, do que assentes em estudos sérios.

Como Secretário-Geral do PS, José Sócrates tem falhado. O seu autismo político espartilhou o seu próprio partido. As medidas incompreensíveis que ia tomando à medida que as eleições presidenciais se aproximavam, só podiam contribuir para o desfecho realizado. Por um lado as estruturas do PS tentaram com todo o seu esforço e empenhamento mobilizar os seus militantes e apoiantes; por outro, as medidas tomadas por José Sócrates deitaram tudo a perder. Era impossível esperar outros resultados. Não querer ver isto, é não querer encarar a realidade. Em Coimbra, foi notório o trabalho feito por Fausto Correia e a sua equipa, mas era impossível fazer mais. Uma coisa é combater os adversários, outra é lutar contra aqueles que deviam estar do mesmo lado e que dirigem o seu próprio partido.

As eleições, quase todas, são hoje aproveitadas mais para os eleitores votarem contra, do que a favor de alguma coisa. A votação que Manuel Alegre teve, é para mim um exemplo acabado do que acabo de dizer. Há quem pense que esses votos são fruto de um movimento consciente para se criar algo mais que uma manifestação de revolta. Os eleitores estão revoltados com o Governo, com os partidos e, principalmente, com a perspectiva de futuro que o País lhes oferece. Nos próximos três anos, não havendo eleições previstas, o que poderão fazer os indignados? Se até a Manuel Alegre cortaram a voz no dia das eleições, quando tinha acabado de ficar em segundo lugar, o que poderão fazer os cidadãos comuns a partir de agora? Foi um voto de descontentamento que Manuel Alegre conseguiu congregar na sua candidatura, mas que não terá qualquer significado no futuro em termos nacionais. O entusiasmo de alguns, leva-os a pensar que é um movimento pioneiro na própria Europa. Não é preciso sair do País e basta recuar um pouco no tempo e recordar o PSN e o PRD. Este último, também surgiu com a melhor das intenções, apoiado pela honestidade e verticalidade de Ramalho Eanes, o que motivou um País desmoralizado. A força que Manuel Alegre agora ganhou, deverá ser posta ao serviço do seu partido de sempre, o PS, de modo a que possa alterar algum do seu funcionamento, abrindo o partido mais à sociedade. Estando o PS no Governo, seria um grande exemplo que poderia dar ao País, com as ideias defendidas agora por Manuel Alegre.

Sobre Mário Soares, fiquei impressionado com a sua força e determinação. Só pode servir de exemplo para quem está sempre indisponível. Para quem tanto deu a Portugal, e mostrou que ainda pode dar, é pena que tenha perdido pela falta de competência do seu próprio partido.

 

in "AURINEGRA"  -  26-01-2006 - www.aurinegra.com 

in "O DESPERTAR"  -  03-02-2006

publicado por José Soares às 13:55
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