Conta-se uma anedota de piada duvidosa, em que numa cimeira internacional, um chefe de estado se dirigiu a José Sócrates e perguntou-lhe: “É verdade que o teu país está tão mal, que há licenciadas a prostituir-se?”, ao que o nosso primeiro-ministro respondeu: “Não, isso é o que diz a oposição; o que se passa é que em Portugal o nível académico é tão alto, que até as prostitutas são licenciadas”.
Lembrei-me desta anedota, ao ler a triste história que se passa em Coimbra: ao contrário de antigamente, existem hoje sem-abrigo licenciados a sobreviver na nossa cidade. Segundo disse ao JN o director municipal de Desenvolvimento Humano e Social, Oliveira Alves, “encontramos pessoas com cultura e competências que estão na rua por opção; e outras que foram atiradas para lá pelas circunstâncias. Perderam a rede familiar e de amigos e caíram no vazio”. Este responsável dá o exemplo de “quadros médios e superiores de empresas, que perderam o emprego”.
Pelo que se sabe, muitas das situações dos sem-abrigo estão ligadas ao mundo da droga. Agora ficamos a saber que a situação tem vindo a mudar. Mas, se a droga não é a causadora primeira de atirar algumas pessoas para a rua, ela vai encontrá-las mais tarde. Talvez também por isso, uma das principais preocupações dos técnicos que trabalham nesta área, é retirar rapidamente quem entrou há pouco tempo nesta vida. Como lembra Oliveira Alves, “quanto mais tempo durar a vida errante, mais difícil será largá-la”.
Em Coimbra, abriu recentemente (poucos dias antes do último Natal) um espaço de apoio aos sem-abrigo, o Centro de Emergência Temporário, o qual está localizado provisoriamente nas instalações da Polícia Municipal de Coimbra e que tem capacidade para acolher apenas em período nocturno (das 21,30h até de manhã), dez pessoas.
In Jornal "O DESPERTAR" - 15-01-2010
. Licenciados também dormem...
. Blogues