Por princípio, tento ver o lado positivo das coisas e da vida, mas com uma dose significativa de realismo. Não sou, por isso, um adepto do lado negro da vida, do pessimismo assumido como uma forma de vida.
Durante as últimas semanas, o país futebolístico, e não só, viveu adormecido na hipótese de Portugal vir a ser consagrado campeão do mundo na África do Sul.
Como de Espanha, diz o ditado, “nem bons ventos nem bons casamentos”, a tradição cumpriu-se e foram os nossos vizinhos a estragar-nos o sonho. A culpa não é dos espanhóis, mas sim das expectativas que criamos, assentes numa realidade virtual que só existe nas nossas cabeças.
Até parece que estou a falar do país, mas ainda só estou a escrever sobre a nossa participação no mundial de futebol. Ganhámos um jogo que vai ficar na história e, sobre os outros, o tempo vai encarregar-se de nos fazer esquecer. Para nosso alívio, sempre podemos crucificar o seleccionador, salvo seja. Sempre foi assim e agora não vai ser diferente. Viemos mais cedo para casa porque havia equipas melhores e ponto final.
O problema maior agora é o tão famoso dia seguinte. Depois da anestesia que o futebol aplicou com sucesso ao país, o efeito passou e os portugueses vão acordando para a dura realidade – a situação em que os portugueses se encontram. Aos poucos ou em ondas de choque, vamos novamente tomar conhecimento que a vida da maioria dos portugueses não está boa e não se prevê que as coisas melhorem.
Até um optimista militante como eu é afectado por esta onda pessimista. Depois, quando se olha para as últimas sondagens publicadas e as mesmas dizem que a alternativa é Pedro Passos Coelho, então é porque estamos mesmo no fundo.
O problema agora é que só vamos ter outro mundial daqui a quatro anos, o que quer dizer que vamos ter mais três anos de sofrimento. Sim, porque um ano antes de a competição começar, o campeonato já é nosso, como sempre tem acontecido.
In: Jornal “O DESPERTAR” – 02-07-2010
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