O PSD ganhou as últimas eleições autárquicas! Não vale a pena negar este facto, por mais razões que existam para justificar tal atitude dos eleitores. Ainda em Fevereiro deram uma maioria absoluta ao PS e já estão agora a dar uma significativa vitória ao PSD. É a democracia a funcionar.
Um dos aspectos mais negativos desta campanha foi a morte dum autarca no primeiro dia da campanha e o incêndio do carro particular dum outro autarca. A par disso e duma forma mais mediática, teve a ver com os candidatos-arguidos, os quais foram todos eleitos e só um não conseguiu ser eleito presidente da Câmara. Sobre estas candidaturas, acho correcto a atitude dos partidos que tiraram o seu patrocínio às candidaturas envoltas em questões de justiça. As acusações são demasiado graves, para que se ignorarem esses factos. Para se ganhar uma câmara, não pode valer tudo.
Salvo algumas excepções, as recandidaturas são sempre mais fáceis. Dum modo geral, a maioria dos actuais presidentes que se recandidataram, ganharam as suas autarquias. Coimbra, Lisboa e Porto, são disso um exemplo. Lisboa tem contornos um pouco diferentes, mas Carmona Rodrigues era o número 2 do executivo e foi presidente da Câmara durante o tempo em que Santana Lopes foi Primeiro-Ministro.
As populações que elegeram autarcas sob suspeita regozijaram-se com os resultados. É pena que a nossa democracia não possa dizer o mesmo. Candidatos-arguidos não são um sinal de uma boa democracia. Apesar de terem perdido as respectivas câmaras, ainda bem que o PS e o PSD se demarcaram desses candidatos. Achar que os eleitores dessas localidades são incultos e fáceis de manipular, é um absurdo e um insulto. Alguém acha que os eleitores de Oeiras são incultos, quando é o concelho que tem a maior percentagem de licenciados? Os votos dos portugueses são cada vez mais votos esclarecidos.
Acima de tudo, acho que os partidos cometeram alguns erros de casting. Nalguns sítios, as candidaturas resistiram aos adversários políticos, mas não conseguiram ultrapassar as anti-campanhas feitas pelos próprios camaradas de partido. Como já disse noutras ocasiões, entre partidos existem candidatos adversários, mas dentro de cada partido existem inimigos, que tudo fazem para que o seu rival camarada perca a eleição em causa. Os exemplos são mais que muitos. Quem foi preterido nas listas, não só não colabora com o seu próprio partido, como acaba por fazer anti-campanha.
Pela diferença de votos entre o PS e o PSD, verifica-se que houve um voto de protesto ao próprio Governo, tal como aconteceu em 2001. É uma evidência que não se pode negar. Este resultado não pode ter consequências governativas, mas era bom que o Governo e o PS tirassem consequências políticas desse resultado. O autismo não faz bem a ninguém. Ignorar os problemas, nunca foi a melhor forma de os resolver.
Há erros de estratégia que são difíceis de entender. Veja-se o caso de Lisboa, a principal câmara do País. O PS escolheu Manuel Maria Carrilho e envia João Soares (que já governou a capital) para Sintra. Depois, entende concorrer sozinho, quando em coligação tinha ganho Lisboa. Um dos problemas dos partidos é que têm demasiados amadores em cargos de responsabilidade. O programa de Carrilho para Lisboa até poderia ser o melhor. Mas quem é que ganha eleições pelos programas propostos? Avançar sozinho só podia dar derrota.
O PS perdeu estas autárquicas duma forma evidente, em toda a linha. Se não souber ou não quiser tirar as devidas ilações e não se souber organizar internamente, certamente que também irá receber um desgosto nas presidenciais. Apesar de serem eleições diferentes, se tal vier a acontecer (duas derrotas seguidas), a vida do PS e do Governo irá ser muito difícil no futuro. Agora que estas eleições terminaram, os portugueses aguardam com expectativa os dias seguintes.
in "AURINEGRA" - 11-10-2005 - www.aurinegra.com
in "O DESPERTAR" - 14-10-2005
Não há dúvidas para ninguém, que as próximas eleições marcadas para 9 de Outubro são para as autarquias locais. Estamos todos seguros e informados, que vamos eleger executivos e assembleias municipais e também assembleias de freguesia. Tudo certo. Mas será que é isso mesmo que as pessoas vão escolher na altura de fazerem as suas opções através do voto?
De um modo geral, todos falam no aprofundamento da democracia. Mas, quanto mais se fala, menos se pratica. Progressivamente, as pessoas têm cada vez menos espaços para manifestarem as suas opiniões. Nalguns casos, até parece um crime defender legítimos direitos adquiridos com muito trabalho e imensos sacrifícios.
Por tudo isto, a vida dos candidatos da oposição ao Governo está mais facilitada. Muitos eleitores irão aproveitar para mostrar o seu descontentamento, votando, não naquilo que efectivamente está em jogo, mas contra o próprio Governo. Não é um bom sinal de uma democracia madura, mas é assim que as coisas ainda se passam. Também é sabido, que é sempre mais fácil uma reeleição, do que a eleição de alguém pela primeira vez.
Transportando essa situação para Coimbra, seríamos levados a pensar que Carlos Encarnação teria a vitória assegurada e que a Victor Baptista estava reservada a derrota. No início da apresentação das candidaturas, até parecia que era isso que ia acontecer. Mas, com o decorrer da pré-campanha, tal parece não ser assim tão seguro. Tudo leva a crer, que a campanha se inicie pautada pelo equilíbrio, onde tudo está em aberto.
O actual presidente, confiante na vitória, está a passar uma mensagem de excesso de confiança, o que é sempre mau em democracia. Desvalorizar os adversários, foi sempre uma má estratégia. Também não mostra um grande entusiasmo e os apelativos cartazes conhecidos, não revelam ideias concretas. São demasiado vagos. A sua pouca motivação ficou bem demonstrada no debate transmitido pela RTP1. Ao contrário da pouca motivação de Carlos Encarnação, opõe-se o grande entusiasmo de Victor Baptista. Se inicialmente entrou a perder, à medida que a campanha de aproxima, cada vez mais vai adquirindo apoios, o que o tem galvanizado num crescente acreditar na vitória. É um conhecedor da Câmara Municipal de Coimbra nas várias vertentes, dado que nela desempenhou vários graus de responsabilidade, o que é seguramente uma mais-valia.
A vida para Gouveia Monteiro também não parece fácil. Fazendo parte do actual executivo, parece mostrar alguma dificuldade em mostrar as suas próprias propostas, dado não se poder demarcar do executivo do qual ainda faz parte. No já referido debate televisivo, foi notória a dificuldade em se colocar: se na situação, se na oposição.
Se atendermos àquilo a que a imprensa se tem referido, parece que as únicas coisas que estão em discussão são as propostas apresentadas pela candidatura do PS. Além das arrojadas mas necessárias propostas de Victor Baptista, que outras estão em discussão? Além destas, saberá o cidadão comum (aquele que muda o seu voto de acordo com as suas necessidades) enunciar mais alguma?
Como desta vez a campanha eleitoral está reduzida a 12 dias, as máquinas partidárias têm de ser céleres a apresentar as suas ideias. Victor Baptista jogou na antecipação concreta das suas propostas e ganhou; Carlos Encarnação tem a vantagem de ser o actual Presidente da Câmara e pertence ao partido da oposição ao Governo; Gouveia Monteiro não está numa posição fácil, mas tem experiência para tornear a situação. Se não se demarcar, poderá por em risco a sua reeleição, quando nas últimas a CDU esteve à beira de eleger dois vereadores. Também é bom que os partidos não se esqueçam, que também o Bloco de Esquerda está na corrida e que poderá ir buscar votos a todos os partidos.
No próximo dia 9 de Outubro, acima de tudo está a eleição do próximo Presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Objectivamente e pelos partidos que os apoiam, só há duas alternativas: Carlos Encarnação ou Victor Baptista. Pela falta de entusiasmo do primeiro, julgo que Coimbra ficaria melhor servida com a determinação do segundo. Neste momento, não é fácil antecipar um vencedor, pelo que as máquinas partidárias vão ser chamadas a darem o seu melhor nesta recta final.
Acima de tudo, espero que Coimbra saiba escolher as melhores propostas e que os candidatos saibam dar um verdadeiro exemplo de democracia.
In "CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS" - 22-09-2005
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