Na semana passada, abordei uma questão que é cada vez mais evidente e preocupante – há um desinteresse generalizado pela participação cívica em associações ou clubes desportivos, recreativos ou culturais.
No próprio dia em que saiu o meu artigo – “Tudo morre”, tive conhecimento que mais uma associação ia fechar portas: Associação de Antigos Alunos da Escola Profissional de Agricultura de Semide (AAAEPAS), de Miranda do Corvo. Fundada em 1985, não conseguiu resistir ao desinteresse dos antigos alunos daquela importante escola e o resultado foi a decisão, tomada em assembleia-geral, de encerrar portas. Uma das pessoas que estava na direcção (presidida por Manuel Pereira) era o meu pai, José Soares, que, aos 81 anos, achou que era altura de dizer basta e de por fim à sua desinteressada colaboração. Ficou triste com o desfecho e por não haver jovens que queiram prestigiar uma escola que contribuiu e contribui, para a formação de jovens carenciados.
Uma outra organização que parece condenada a fechar portas, é a Associação de Moradores do Bairro António Sérgio (AMBAS), de Coimbra. Este bairro, situado entre o Bairro do Ingote e o Bairro da Rosa, pior localização era impossível, precisava duma associação forte e com uma mobilização dos seus moradores. Estes parecem não entender a importância de estarem organizados. Isolados nada conseguem; organizados e unidos, ainda poderão mostrar alguma força junto das instituições (Governo Civil, Câmara Municipal, Junta de Freguesia, Polícia de Segurança Pública, etc.). Os moradores não se organizam e a direcção da AMBAS tem-se mostrado incapaz de inverter a situação, mobilizando quem quer que seja. No último acto eleitoral, já nem se apresentou qualquer lista, pelo que também a AMBAS corre o risco de encerrar portas, dado que na prática todos os órgãos sociais encerraram a sua actividade, esperando os moradores alguma informação da comissão administrativa entretanto formada.
Termino com a ideia que expressei no último artigo: “É mais forte que o destino – tudo morre. Para contrariar esta tendência, só com um empenhamento mais efectivo dos jovens. Sem eles, nada tem futuro”.
In Jornal "O DESPERTAR" - 20-11-2009
Quem está ligado a pequenas associações cívicas, sem cobertura mediática, sabe quão difícil é manter estas em actividade. Cada vez mais, as pessoas se mostram indisponíveis para darem um pouco do seu tempo, em favor dos outros.
Se estivermos um pouco mais atentos, sobre o que se passa à nossa volta, de certeza que encontraremos clubes de bairro e associações que fazem um esforço imenso para se manterem activos, ou pura e simplesmente já fecharam. Muitos dos que ainda se encontram de portas abertas, só o estão à custa dos carolas, normalmente sempre os mesmos.
Mesmo grupos de grande visibilidade e até com alguma cobertura mediática, sofrem do mesmo efeito erosivo. Parece um vírus que atravessa toda a sociedade. É pena que assim seja, mas parece uma coisa inevitável.
Recentemente o Conselho da Cidade de Coimbra foi também afectado pela mesma doença. A indiferença e a indisponibilidade das pessoas, também bateu à porta desta associação cívica. Criada em 2001 por 44 associações e cidadãos individuais e apadrinhada por Boaventura Sousa Santos e Vital Moreira, após o Congresso da Cidade organizado pela Associação Cívica Pró-Urbe, nem assim parece resistir à indiferença da própria cidade e dos seus cidadãos. Ninguém parece disposto a tomar o lugar de José Dias, que já há uma ano terminou o seu mandato, sem que tenha aparecido alguém para o substituir.
É mais forte que o destino – tudo morre. Há associações e grupos cívicos que nascem sem qualquer sustentabilidade ou razão de ser. Outros porém, são alicerces fundamentais numa sociedade. Mesmo sendo importantes, acabam por morrer e, para contrariar esta tendência, só com um empenhamento mais efectivo dos jovens. Sem eles, nada tem futuro. Era bom que também eles tenham consciência disso.
In Jornal “O DESPERTAR” - 13-11-2009
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