Dada a época que atravessamos, para mim aquela onde a hipocrisia mais se faz notar, entendi trazer hoje uma história ocorrida o ano passado, mas que infelizmente continua actual. Acreditem que vale a pena lerem-na até ao fim.
Se há alturas em que aparentemente estamos mais solidários, o Natal é seguramente uma delas. Há no entanto, casos que não podem passar despercebidos. Se calhar já todos nós assistimos a casos idênticos. Mas, como colaborador permanente da imprensa, considero ter mais responsabilidade para denunciar algumas situações do nosso quotidiano.
Por princípio, tento ao máximo fugir às grandes concentrações de pessoas. Nestes casos, está seguramente uma ida a qualquer grande superfície. Pior ainda, se for em épocas festivas. Por isso, foi para mim um suplício ter que ir agora ao Continente (poderia ser noutro qualquer estabelecimento do género), para comprar aquilo que não encontro noutro sítio.
Depois de mais um teste à minha capacidade de sofrimento, lá aguentei aquele parafernália de compradores de Natal. Apesar da crise, é impressionante a quantidade de compras que se fazem nesta altura, quando na sua grande maioria, elas já não terão qualquer utilidade quando entrar o novo ano. Venho eu com dois produtos, quando deparo com um casal e uma criança, agarrados a um carro que já se mostrava pequeno demais para a grande quantidade de prendas, dados os seus insuspeitos embrulhos, alusivos à época. Nem de propósito. A senhora, com ar de quem nunca teve problemas na vida, depara com uma situação que a tirou do sério. À saída, uma criança, mais ou menos com a idade da sua filha, estende-lhe a mão com o objectivo de receber qualquer moeda. Fria como o dia, esta senhora dispara para o marido, mas alto para que mais ouvissem (afinal estava ciente da sua razão): É nisto que a Polícia devia pôr os olhos. Gastamos aqui o nosso dinheiro e ainda temos que aturar pedintes!.
Não vou adjectivar as atitudes desta senhora, até porque, infelizmente, não é a única a ter este tipo de atitude. No entanto, deixo aqui alguns dados em números da Unicef, tornados públicos no ano passado: 2,2 mil milhões de crianças até aos 15 anos; 1 em cada duas crianças vivem na pobreza; 640 milhões não têm habitação adequada; 500 milhões não têm acesso a saneamento; 400 milhões não têm acesso a água potável; 300 milhões não têm acesso a informação; 270 milhões não têm acesso a cuidados de saúde; 140 milhões, na sua maioria raparigas, nunca foram à escola; 90 milhões de crianças sofrem de graves privações alimentares e 700 milhões de crianças sofrem pelo menos de duas ou mais destas privações.
Muito sofrem estas pobres crianças pobres, para as quais todos nós vamos contribuindo com a nossa indiferença.
in "DIÁRIO DE COIMBRA" - 24-12-2005 - www.diariocoimbra.pt
Mesmo para os mais desligados do mundo da música, certamente já todos ouvimos falar dos tenores Plácido Domingo e José Carreras. O que talvez a maioria não saiba, é que o primeiro é madrileno e o segundo é catalão. Também por isso, as questões políticas tornaram-nos inimigos. A situação era de tal maneira que cada um deles, para actuar, exigia no contrato que o outro não pudesse ser convidado. Eram verdadeiros inimigos de estimação.
Ambos os tenores sempre foram muito admirados na sua arte. Por ela, eram também bem pagos. Apesar da inimizade entre ambos, habituaram-se a viver com isso. Da mesma forma que algumas pessoas têm o privilégio de se amarem, estes tinham o azar de se odiarem.
Em 1987, quis o destino que José Carreras tivesse um novo inimigo, bem mais perigoso e letal uma leucemia. O aparecimento do cancro desregulou completamente a vida a Carreras. Deixou de participar em espectáculos, passando exclusivamente a dedicar o seu tempo a salvar a sua própria vida. Para isso, submeteu-se a desgastantes tratamentos, a uma transplante de medula óssea e a uma mudança de sangue. Para salvar a vida, Carreras tinha de se deslocar mensalmente aos Estados Unidos. Apesar de ser um homem com uma fortuna razoável, o tratamento e as frequentes viagens delapidaram-lhe o património. A situação era de tal maneira grave, que deixou de ter possibilidades de continuar os tratamentos nos Estados Unidos. O homem que encantara multidões com a sua voz sentia-se abandonado à sua triste sorte. Parecia que nada havia a fazer.
É na altura que José Carreras pensa que já nada havia a fazer, que toma conhecimento da Fundación Hermosa, localizada em Madrid e que se destinava a apoiar o tratamento de doentes com leucemia. Como o importante era curar-se e já não tinha meios financeiros para fazer escolhas, o catalão José Carreras entregou-se de alma e coração àquela fundação, como a única esperança para o seu caso. Em boa hora o fez, porque foi através dela que recuperou a sua saúde e alegria de viver, e pode novamente continuar a cantar.
Depois de recuperado, lê os estatutos da Fundación Hermosa e não queria acreditar no que lia: o presidente da fundação era nem mais nem menos do que o seu inimigo Plácido Domingo. Aquele que mais odiava tinha fundado uma organização com o propósito de o salvar. Durante muito tempo, Plácido manteve o anonimato de modo a que o seu doente inimigo não se sentisse humilhado.
Passado algum tempo, Plácido Domingo iria dar um concerto em Madrid. Na altura em que estava a actuar, José Carreras interrompe a actuação do inimigo, sobe ao palco e numa atitude de grande humildade, ajoelha-se aos pés do seu novo Amigo, a quem pede desculpa e agradece publicamente o gesto que teve para consigo. Perante tal atitude, Plácido Domingo ajuda o seu novo Amigo a levantar-se e perante a enorme assistência dão um grande e comovido abraço, selando publicamente a nova Amizade.
Esta história podia terminar aqui, mas termino-a com uma resposta que Plácido Domingo deu a uma jornalista que o interrogou sobre a sua atitude, tomada precisamente com o seu principal inimigo e rival: Porque uma voz como aquela não se podia perder.
in "AURINEGRA" - 20-12-2005 - www.aurinegra.com
in "O DESPERTAR" - 23-12-2005
É sabido que vida não está fácil para ninguém. No entanto, para as famílias onde o desemprego bateu à porta, a situação é de facto dramática. Segundo os dados oficiais que têm vindo a público, já são mais de 400 mil os portugueses que procuram emprego sem o conseguir e, na voz dos pessimistas/especialistas, a tendência ainda é para piorar
Não é de facto fácil estar desempregado. Mas, na época em que estamos a entrar, onde a pressão consumista é avassaladora, deve ser muito complicado os pais não poderem comprar aos filhos aquilo que a sociedade exige. Por mais que se diga que há que controlar ainda mais as despesas nas épocas de crise, a verdade é que a pressão dos filhos e o amor que os pais lhes têm, leva estes a cometer loucuras que pagarão no futuro ainda com mais dificuldade.
Quando se entram em campanhas eleitorais, surgem normalmente umas luzes de esperança trazidas pelos protagonistas. Agora que se iniciou uma campanha eleitoral para a Presidência da República, seríamos levados a pensar que tal voltaria a acontecer. Mas não. Uma leitura superficial mas abrangente por todas as candidaturas, mostra que o desemprego veio mesmo para ficar, chegando mesmo a ser encarado como um fatalismo de que não se pode fugir.
Entrámos numa época de alegria, luz, convívio e felicidade. Pelo menos assim parece. Mas, perante a realidade da vida da maioria dos portugueses, será mais uma altura de sofrimento, frustração e mágoas. Mas, como bons portugueses que somos, no cimo das nossas misérias havemos de colocar o nosso maior sorriso. Afinal, estamos também na época onde o parecer também tem força. Em vez de lutarmos contra esta triste sina, aceitamo-la e tentamos esconder e iludir a realidade.
in "AURINEGRA" - 06-12-2005 - www.aurinegra.com
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